Tomamos a iniciativa de cavar um profundo debate sobre o que é Esquerda ideológica em Cabo Verde, as suas inconveniências e relevâncias. Eu mesmo considero a polémica ideológica muito importante na definição das políticas mais acertadas para a promoção do desenvolvimento das ilhas: digo mais adequado, por que nem sempre um avultado investimento nas políticas sociais determina o sucesso da política. Estando ciente de que a definição e a marcação duma linha de fronteira entres os principais agentes políticos − sobre a questão ideológica não está muito clara em Cabo Verde. E penso que não deverá ser a sociedade civil a outorgadora dos projectos ideológicos dos partidos políticos, cabendo a cada um seguindo a sua evolução e circunstâncias na definição das suas orientações ideológicas.
Não havendo um conceito absoluto na definição do Socialismo e por haver clivagens na “via para o Socialismo”: socialismo revolucionário e socialismo evolutivo, para uma melhor compreensão do que seja o Socialismo termos de ter em consideração alguns conceitos que orbitam todas as divergências concepcionais. Os dois primeiros conceitos estão na base de qualquer definição do que seja Socialismo: a História e a Natureza. Giddens[1] salienta que o socialismo assenta na recuperação do humano e que a história não exprime a vontade divina, mas sim determinado pelas lutas e criatividades do homem; e que a tarefa da humanidade é controlar o desenvolvimento social de modo consciente. Esta visão da história implica também uma visão da natureza, na medida em que tanto a história como a natureza são recursos que devem ser “moldados aos desígnios do homem”[2].
Na nossa perspectiva histórica a luta de libertação nacional; o significado do desenvolvimento e progresso; a democracia e a pós-modernidade fundamentam-se na óptica de que o destino de Cabo Verde deve estar nas nossas mãos. Assim compreende-se facilmente por que razão Amílcar Cabral seguiu esta linha ideológica atribuindo a cultura o papel fundamental na acção da luta e no escorço do progresso das ilhas. É culturalmente que o homem se interage na transformação do meio e da história. Tendo aqui a dialéctica histórica assente na luta entre colonizador e o colonizado, Cabral não via ali uma luta de classe, mas sim um delineamento da reposição da história do homem africano, tomando à mão o desígnio da sua vida e do seu progresso económico e social. Se caso não fosse coincidência o “socialismo cabralista” tem a mesma origem que o Socialismo europeu, pois tanto um como o outro originam da urgência do homem tomar o destino nas suas mãos.